Pode-se afirmar que é impossível
atingir o comunismo sem a transformação do papel da mulher hoje estabelecido. E
essa transformação começa pela libertação do papel que ela cumpre na família,
no aparelho ideológico familiar. Sob o capitalismo a função que a mulher
desempenha na família é a de realização de tarefas que auxiliem na redução do valor
da força de trabalho do proletariado, função essa considerada subordinada ao
papel do homem, ideologicamente identificado como o chefe e aquele que provê as
necessidades da família. Para alterar esse quadro e permitir a maior
participação da mulher na revolução é preciso que ela se liberte dessa pequena
economia doméstica, que a própria família seja alterada.
É precisamente esse o ponto que o
texto da camarada Ana Barradas, que abaixo reproduzimos, nos apresenta: quais
foram as principais mudanças no aparelho familiar e na condição da mulher levadas
a cabo na Rússia após a revolução de 1917. Esse texto pode ser acessado também no blog Bandeira Vermelha.
No artigo é possível ver o quanto o
ímpeto revolucionário levou a mudanças profundas na legislação, estabelecendo "direitos", e as iniciativas práticas que o Estado proletário adotou, mesmo em
período de guerra, para permitir que as mulheres ampliassem sua participação
política e econômica na revolução, libertando-se de suas pretensas
“responsabilidades domésticas”. O texto também nos apresenta os fatores
conjunturais, políticos e ideológicos que, não apenas interromperam essas
mudanças, como as desfizeram, impelindo as mulheres a regressar as suas
condições anteriores. O ascenso ou recuo na luta de classes, do ponto de vista
do proletariado, vão determinando o avanço ou o retrocesso no processo de
transformação do papel da mulher.
Na semana do 08 de março, Dia
Internacional da Mulher, pretendemos com essa publicação estimular o debate sobre
essa questão central, a partir da análise dos fatores que contribuíram para
avançar ou retroceder a luta da mulher, na situação concreta que viveu a
Revolução Russa, aprendendo com aquela experiência e nos permitindo combater de
forma mais efetiva nossos limites e incompreensões sobre esse tema,
condicionante fundamental para a construção da revolução em nossa realidade
atual.
* * *
A família na União Soviética. Crise e
reconstituição 1917/1944.
Ana Barradas
Muitos dos operários e
intelectuais avançados do nosso país que admiram sinceramente as conquistas
revolucionárias da Rússia soviética talvez tenham reticências quanto ao aspecto
concreto da libertação da mulher, tomando as formas de que ela se revestiu como
manifestações excessivas dos primeiros anos. A imagem que têm da mulher
soviética é aquela que foi propagada muito mais tarde: a da mulher produtora,
igual perante a lei, mas simultaneamente recuperada para o papel de esteio da
família.