sábado, 22 de março de 2014

Comentários no blog sobre a situação na Ucrânia.

Recebemos dois comentários na postagem da charge que reproduzimos sobre a Ucrânia em 03 de março de 2014. O coletivo do Cem Flores considera importante sua divulgação por concordarmos, no fundamental, com as posições apresentadas. 
Como diz nosso colaborador anônimo "trata-se de uma disputa interimperialista, na qual a burguesia se divide, oscila entre os dois lados.
Dessa disputa não resultará nada de positivo para proletariado e demais classes dominadas da Ucrânia. O proletariado ucraniano, como o de todos os demais países, deve buscar sua organização independente para fazer frente à burguesia, seja ela ucraniana, russa, alemã ou americana".


Em 19 de março de 2014.

Caros camaradas,
Muito boa a charge que vocês reproduziram sobre a situação da Ucrânia. De fato, todas as notícias e indícios que consegui acompanhar na imprensa e em sítios e blogs sobre aquele país mostram participação efetiva de grupos neonazistas. Inclusive claramente identificados com a invasão hitlerista na II Guerra e com o combate ao Exército Vermelho e a URSS. E agora com os ataques a militantes e instalações do PC da Ucrânia. 



Mas acho que isso é apenas um aspecto do caso e, infelizmente, vocês não escreveram a respeito. Para tentar contribuir com esse debate - e usando os próprios materiais do Cem Flores - acho que é fundamental analisar o caso ucraniano utilizando o conceito marxista de luta de classes e o conceito leninista de imperialismo, além de considerar a atual crise do imperialismo. Nada diferente do que vocês fizeram no documento sobre a conjuntura internacional de janeiro deste ano.
Todos sabemos, ao menos desde Lenin - e vocês corretamente destacaram isso no documento de janeiro -, que, na época do imperialismo, terminada a divisão do mundo entre as potências imperialistas, uma nova divisão não se faz de maneira pacífica, harmônica, em jantares de gala diplomáticos. Trata-se, sempre, de relação de forças, conflitos de diversos tipos e intensidades e, no limite, guerras. Trata-se, enfim, da luta de classes das classes dominantes, entre as burguesias dos países imperialistas envolvidos, com a participação da burguesia do país dominado (aliando-se a um dos lados em conflito ou rachando). 

Só que no modo de produção capitalista não há perenidade (talvez nem sequer estabilidade) na divisão do mundo. O funcionamento da lei do valor, condicionando a acumulação do capital em escala mundial e nos distintos países, além de fatores históricos, políticos, militares, ideológicos, etc., impulsionam tendências para que se redefinam constantemente / periodicamente essa divisão (como vocês identificaram na tendência de alteração da "nova divisão internacional do trabalho"). O capitalismo é mesmo um bicho contraditório!
Essas tendências se agravam na crise do imperialismo, ainda mais uma tão seria quanto esta. É o que vocês chamam de agravar todas as contradições...

No caso da Ucrânia, ficando nos aspectos mais gerais, abstraindo de detalhes específicos que espero secundários (mesmo porque não tenho tanta informação a respeito), pode-se dizer que se trata de uma disputa interimperialista entre Rússia, União Européia (dominada de forma crescente pela Alemanha) e Estados Unidos. 

O pano de fundo parece ser a crise econômica do pais, em recessão desde 2012, enfrentando queda nas suas exportações de produtos primários (agrícolas e minerais), fuga de capitais e perda de reservas, conjuntamente com o aumento do serviço de sua dívida externa. 

Não é a toa que muito se falou nos 15 bilhões de dólares de empréstimos que a Rússia enviaria à Ucrânia e que as potências imperialistas ocidentais prometeram cumprir com recursos do FMI. 

Por sobre essa crise econômica, e agravado por ela, está um gigantesco caldo histórico / étnico das relações Ucrânia/Rússia, agravado pelas ligações econômico-militares entre os dois países. Só para ficar em dois exemplos, o gasoduto que parte da Rússia para abastecer a Europa, via Ucrânia, e a base naval russa de Sebastopol, na Crimeia (agora novamente anexada a Rússia). 

Como se diz no popular, nesta crise "o buraco é mais embaixo", de tal forma que a ocupação militar russa na Crimeia segue incontestada, com o exército ucraniano batendo em retirada e a Europa e os EUA paralisados. A questão ucraniana, no entanto, segue longe de ser resolvida. 

Sem querer simplificar em demasia algo muito complexo, trata-se, na minha opinião, de uma disputa interimperialista, na qual a burguesia ucraniana se divide, oscila, entre os dois lados. 

Dessa disputa não resultará nada de positivo para o proletariado e demais classes dominadas da Ucrânia. O proletariado ucraniano, como o de todos os demais países, deve buscar sua organização independente para fazer frente à burguesia, seja ela ucraniana, russa, alemã ou americana.
Em 20 de março de 2014 outro colaborador anônimo comentou:
Camaradas do Cem Flores,

Muito interessantes os comentários do anônimo de ontem sobre a questão da Ucrânia. Buscando contribuir para esse debate, traduzi alguns parágrafos da versão em inglês de documento recente do KKE sobre a questão ucraniana. 

Acho que o KKE vai na mesma linha de ressaltar o conflito interimperialista que se trava na Ucrânia atualmente. Nessa situação, só cabe ao proletariado a busca de seu caminho próprio na luta de classes, ao lado das demais classes dominadas e contra a burguesia ucraniana e as potências imperialistas. 


KKE: Declaração do Escritório de Imprensa do Comitê Central do KKE sobre a Ucrânia e o Referendo na Crimeia


"O KKE desde o primeiro momento denunciou a intervenção imperialista dos EUA-OTAN-União Européia na Ucrânia e o golpe de Estado das forças reacionárias, com a participação de nazistas..."

"Tendo como nosso critério os interesses do povo, nós consideramos que a assimilação da Crimeia na Rússia não trata de forma efetiva da intervenção, nem soluciona a essência de qualquer dos problemas reais do povo da Crimeia, nem significa qualquer normalização da situação ou uma solução de longo prazo de paz e cooperação dos povos da região com prosperidade e progresso. A maioria do povo está sofrendo tanto na Ucrânia quanto na Rússia, vivendo nas condições da barbarie capitalista...". 

"A secessão na Crimeia e sua assimilação na Rússia fortalecerão ainda mais a corrente nacionalista, tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ela vai colocar milhões de trabalhadores na armadilha do confronto com base nas nacionalidades, obscurecendo as causas reais do conflito, tanto quanto a única alternativa de solução que existe para os trabalhadores e que se encontra em outro caminho de desenvolvimento, o socialismo".



2 comentários:

Porto Santo disse...

Ler este texto inserido no jornal do Luta Popular orgão central do PCTP/MRPP:

http://lutapopularonline.org/index.php/internacional/1012-a-uniao-europeia-a-ucrania-e-o-espaco-vital-alemao

Eco Anti-NOM disse...

Gostaria de acrescentar uma com uma análise bem detalhada da situação na Ucrânia:

Olá amigos, gostaria de recomendar este detalhado texto sobre o que realmente há por trás dos protestos na Ucrânia:

Ucrânia, Autópsia de um Golpe de Estado
http://www.anovaordemmundial.com/2014/03/ucrania-autopsia-de-um-golpe-de-estado.html

Basicamente, houve uma enorme ingerência do ocidente antes e durante supostos protestos, que vieram a colocar as mesmas cabeças corruptas que perderam as últimas eleições, e que estavam por trás da falsa revolução laranja. Vale a pena ler e compartilhar.