quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

“Catracaço” no Rio de Janeiro mostra disposição para a luta!


“Aos gritos de "Ei, Fifa, paga a minha tarifa", centenas de pessoas pularam as roletas da estação ferroviária Central do Brasil na noite desta terça-feira, 28, durante ato contra o aumento das passagens organizado pelo movimento Passe Livre do Rio”, anuncia matéria do Estado de São Paulo do último dia 28.


E mais: acompanhando os organizadores, “rapidamente a enorme fila de pagantes se desfez e muitos seguiram a orientação da multidão eufórica: ‘Pula que é de graça!’”.
Ainda segundo a matéria, “Algumas pessoas não entendiam o que estava acontecendo. Uma mulher chegou a perguntar ao major que comandava os policiais se podia mesmo passar sem pagar. ‘Aí é com a senhora’, respondeu o policial. Ela se afastou um pouco dele e pulou. Nem precisava. Passageiros pulavam na frente dos policiais.”
Foto: http://passapalavra.info/2014/01/90955/comment-page-1#comment-180904
"Não é nem pelos R$ 2,90 da passagem, mas pela sacanagem que fazem com o trabalhador", disse, após pular a roleta, o funcionário público Fernando Antônio dos Santos, que aderiu ao protesto. Ele mora em Realengo, na zona oeste, e trabalha no centro. "Aqui ninguém respeita a gente. A passagem não é barata e o trem não tem ar-condicionado. Quando quebra, além de não avisar nada ainda ficam rindo", disse Santos, referindo-se ao secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, fotografado dando uma gargalhada durante vistoria realizada após o acidente da semana passada.
O desabafo acima é sobre esta imagem, que estampou a primeira página de um jornal de grande circulação no Rio de Janeiro, na qual o secretário de transportes, à direita, dá uma gargalhada enquanto conversa com o presidente da Supervia.
http://extra.globo.com/noticias/rio/secretario-de-transportes-do-rio-admite-falha-mas-da-gargalhada-durante-vistoria-em-local-de-descarrilamento-11369035.html
A manifestação e o catracaço ocorreram menos de uma semana depois de mais um acidente com os sucateados trens da Supervia, empresa privatizada no final dos anos 1990. A principal melhoria nesses 15 anos de administração privada do transporte público foi pintar os trens. Realmente um luxo. Ar condicionado? Para que? Só porque estamos numa cidade que tem temperaturas médias acima dos 30° em boa parte do ano? Se a maior parte dos ônibus não tem ar condicionado, porque os trens teriam? A lógica é impecável.
Segundo dados públicos, “de janeiro a setembro do ano passado, incidentes relacionados, sobretudo a panes mecânicas e problemas na rede aérea, levaram a Agetransp a multar a SuperVia em R$ 281,5 mil e abrir 66 boletins de ocorrência. Desde o começo da concessão, em 1998, até setembro do ano passado, as multas somaram R$ 5,1 milhões.”
Não bastasse o sucateamento dos trens, que por si só justificariam a revolta dos passageiros com as péssimas condições do transporte, são frequentes imagens com esta, onde funcionários da Supervia usam cordão de crachá para "chicotear" passageiros.
No último dia 22 de janeiro, o descarrilamento numa das principais estações de trem do Rio de Janeiro deixou cerca de 600 mil pessoas a pé, uma vez que não puderam usar suas passagens da Supervia nos ônibus ou no metrô. Caos? Não é o que o secretário de transportes enxergou:
"Não houve caos. Houve uma ocorrência de grande porte em um grande sistema viário, como pode acontecer em qualquer lugar do mundo".
ADVERTÊNCIA: a fotografia abaixo NÃO foi feita na Suíça.
Do lado dos passageiros, é unânime: "Os trens estão sucateados, falta uma mudança mesmo, os trens estão com mais de 30 ou 40 anos. É difícil você ver um trem com ar condicionado. Quando vê, é um atraso constante", afirma uma passageira. Segundo ela, a situação fica pior devido às interrupções no sistema. "No dia que o trem ficou paralisado, que houve acidente em São Cristóvão, eu fiquei presa na estação São Francisco Xavier, machuquei o braço, pisaram no pé, cheguei no serviço 10h30 da manhã, saí de casa 5h25. Cheguei no serviço, em Botafogo, toda cansada, amassada", lembra.
Ainda segundo o hilário secretário, problemas em trens do Rio "existirão sempre".
Não é o que indicam as manifestações, nem o catracaço. Após décadas de privatizações, propagandas mentirosas, falsas promessas e outras formas de explorar e humilhar o povo trabalhador, as ruas recomeçaram a ser o palco de protestos, mostrando que está em curso uma retomada da ofensiva dos trabalhadores na luta de classes.
Como diz a paródia de um funk de sucesso, "rala burguesada"!
NOTA: O catracaço na Central do Brasil já produziu efeitos: Em nota, a assessoria do governo do Estado afirmou que “o governador Sérgio Cabral decidiu manter os valores atuais das tarifas de trens (R$ 2,90), barcas (R$ 3,10) e metrô (R$ 3,20)”.
http://www.valor.com.br/politica/3415882/contra-protestos-rio-congela-tarifas-de-trem-barca-e-metro#ixzz2sO639QPg
Sem dúvida uma vitória da resistência popular, mas, como diz o ditado, “alegria de pobre dura pouco”:
Segundo a nota, o governador encomendou, à Secretaria de Estado de Fazenda, um estudo para definir como compensar as concessionárias dos serviços de trens, a SuperVia, controlada pela Odebrecht; e metrô, a empresa Metrô Rio, da Invepar. A manutenção dos preços nas barcas será subsidiada pelo Fundo Estadual de Transporte, de acordo com lei estadual aprovada em 2011.
Afinal, em ano eleitoral não se pode desagradar os principais financiadores das campanhas para governador e prefeito...

Um comentário:

Anônimo disse...

Hoje, 6 de fevereiro, houve novo protesto, mas desta vez, não houve catracaço: o batalhão de choque da PM, repetindo sua atuação nas manifestações do ano passado, 'baixo ou pau' nos manifestantes, dispersando o protesto com gás lacrimogêneo. Afinal, a propriedade privada é sagrada! No começo da noite, mais uma vitória da resistência popular: a SuperVia liberou as catracas na Central do Brasil "para evitar tumultos em protesto". Rala burguesada! Viva o catracaço!
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-02/supervia-libera-catracas-na-central-do-brasil-para-evitar-tumultos-em-protesto