domingo, 29 de julho de 2012

Notas sobre a relação entre o materialismo histórico e o materialismo dialético.


A propósito do texto de Georges Gastaud "o renascimento do materialismo dialético no coração do antagonismo entre revolução e contra-revolução no séc. XXI"


(O texto original em francês de Gastaud e a tradução para a língua portuguesa encontram-se no sítio do encontro Marx em maio, ocorrido entre 3 e 5 de maio de 2012 na Universidade de Lisboa. Link: http://marxemmaio.wordpress.com)

Vantuir Negrão[1]

“La crítica no ha desahojado las flores imaginarias que adornaban las cadenas para que el hombre las siga llevando despojadas de todo ornato de fantasia, sino para que se sacuda las cadenas y tienda la mano hacia la flor viva”. (K. Marx, Crítica de la filosofia hegeliana del derecho)

Talvez não seja demais afirmar que, desde o surgimento do marxismo, o ‘materialismo dialético’ ou ‘dialética materialista’ tenha sido um dos assuntos mais controversos, mais debatidos e ao mesmo tempo mais acessíveis ao revisionismo.
Avançar na compreensão do papel de uma ‘filosofia marxista’ reveste assim de uma grande importância, não somente teórica, mas, sobretudo prática, com reflexos na linha política da revolução.
Os precedentes falam por si: Engels e seu ‘Anti-Duhring’ e Lenin e seu ‘Materialismo e Empiriocriticismo’, textos ‘de combate’, escritos no calor da luta política, com o objetivo de sustentar uma posição materialista em filosofia que demarcasse o marxismo dos vários ataques e, principalmente, da ideologia burguesa que ameaçava penetrar o campo do marxismo.
Segundo citação de um historiador bolchevique contemporâneo de Lenin e reproduzida noutra intervenção deste mesmo Marx em maio:
“Quando Ilitch [ou seja, Lénine] começou a disputa com Bogdánov sobre o assunto do empiriomonismo, lançámos as mãos à cabeça e concluímos que Lénine havia perdido o juízo. O momento era crítico. A revolução retrocedia. Enfrentávamos a necessidade de uma viragem radical das nossas tácticas. E, apesar disso, nesse momento Lénine submergiu-se na Biblioteca Nacional [de Paris]. Sentava-se lá dias inteiros e como resultado escreveu um livro... sobre filosofia. As piadas, as provocações, foram intermináveis. A resposta de Lénine foi Materialismo e Empiriocriticismo”. (Fagundes, J. V., Sobre Lénine e a dialéctica materialista apud. Paul LE BLANC, Lenin and the Revolucionary Party, New Jersey, Humanities Press International, 1990, p. 160.)

sábado, 7 de julho de 2012

Como o Comitê Central da Burguesia decide as medidas de política econômica

 

Ao final de março publicamos neste blog as simbólicas fotos do que chamamos de reunião do Comitê Central da Burguesia, ocorrida dias antes entre a Presidente Dilma, o Ministro da Fazenda Guido Mantega e 28 dos maiores burgueses do país. As fotos são ilustrações perfeitas da validade universal da tese de Marx e Engels contida no Manifesto Comunista: “O Estado moderno não é nada mais que um comitê para gerenciar os negócios da burguesia”.
A partir das discussões de conjuntura com os companheiros do blog, decidimos que era importante analisarmos mais a fundo esse assunto. Aquela reunião deu ensejo a novas medidas do governo, “políticas públicas”, diz o jargão oficial para as medidas que o Estado capitalista toma para favorecer a sua burguesia. E quem diz favorecer a burguesia, diz aumentar a sua taxa de acumulação, sua taxa de lucro, o que não quer dizer outra coisa senão o aumento da exploração da classe operária e demais classes dominadas. E quando vemos, em 27 de junho, que o governo lançou o sétimo desses pacotes em um ano e meio (com o ridículo nome de “PAC Equipamentos”), percebe-se que não se trata de “acaso”, mas do modus operandi do governo e do Estado brasileiros.
No texto a seguir, através de uma investigação detalhada dos antecedentes da reunião do Comitê Central da Burguesia, de suas propostas e das medidas que se seguiram, pretendemos mostrar a quem, de fato, serve o Estado capitalista. Ao mostrar o Estado burguês a serviço da sua burguesia (desculpem o pleonasmo!), esperamos deixar claro o vergonhoso papel de serviçais da burguesia desempenhado pelas atuais centrais e sindicatos, pseudo-representantes dos trabalhadores, e também criticar aquilo que Engels chamava de “crença supersticiosa no Estado”.