sábado, 19 de dezembro de 2009

Sobre “contra o culto dos livros”



O texto que apresentamos data de maio de 1930, o retiramos de uma versão em português (Coleção Teoria Hoje 1, Filosofia de Mao Tse Tung, Editora Boitempo Ltda, 1979, 2º Edição em português) e o comparamos com outra versão em espanhol (Textos Escogidos de Mao Tsetung, Ediciones em lenguas estranjeras, Pekin, 1976).
O combate às práticas revisionistas e seus desvios oportunistas e putchistas nos exigem reler várias vezes este texto para tirarmos os princípios da prática revolucionária.
Extirpar dos meios revolucionários o praticismo cego e o seu reverso dogmático nos exige entender a realidade como ela é. Exige uma investigação militante, olhar pela/na luta as múltiplas contradições que compõe o real. Como diz o texto:
(...)
Não podem resolver um problema? Pois bem, informem-se sobre o seu estado atual e sobre a sua história! Assim que essa investigação tiver possibilitado a elucidação de tudo vocês saberão como resolve-lo. As conclusões extraem-se no fim da investigação e não no seu começo.
(...)
Investigar sobre um problema é resolvê-lo
(...)
Experimentem apreciar uma situação política ou dirigir uma luta sem qualquer investigação sobre a realidade e vejam se a vossa apreciação ou direção é ou não é vã, idealista, e se tal maneira vã e idealista de fazer apreciações políticas ou dirigir os trabalhos conduz ou não a erros oportunistas ou putchistas. Seguramente que sim. E isso não será assim pelo fato de se não ter tido o necessário cuidado de preparar antecipadamente um plano, mas sim porque não se procurou conhecer a situação real da sociedade antes de elaborar tal plano (...)
(...)
Executar cegamente, aparentemente sem qualquer objeção, as diretivas dum órgão superior, não é realmente uma execução, mas antes a maneira mais hábil de opor-se a elas ou sabotá-las (...)



Situar-se na luta de classes significa ver a realidade como ela é, ou seja, significa banir quaisquer formas de idealismo. Significa combater o inimigo com a única arma capaz de levar o proletariado a derrotá-lo.

3 comentários:

Felipe disse...

Amigos, achei realmente muito bom esse texto do Mao. Acho que serve bastante, ainda hoje, para combater um certo "marxismo" de fraseados revolucionários e jargões - que pode ser sedutor para alguns que ainda não vivem a luta de classes ideológica/teórica pensando "pela própria cabeça". Além disso é interessante pensar as várias dimensões da pesquisa às quais Mao nos atira. Afinal, para conhecer é preciso investigar: tanto realidades empíricas quanto problemas teóricos. Ou seja, para desenvolver o marxismo e análises concretas de situações concretas devemos estar abertos a pesquisa, tanto da nossa formação social, quanto dos problemas referentes à construção de uma ciência, a relação do marxismo com outras ciências, a relação da filosofia com o marxismo. Se pegarmos o trabalho de Althusser me parece que essa pesquisa para acertar a posição teórica, contra todo economicismo e subjetivismo, passou inclusive pela pesquisa na filosofia, sua história e seus filósofos, afinal segundo ele ela é uma "luta interminável entre materialismo e idealismo". Logo, se toda ciência é materialista faz todo sentido rever um "corrente filosófica" que foi, aos poucos e cheio de contradições, achando posições materialistas na filosofia. Essa dimensão de pesquisa na filosofia e o estudo desses outros filosófos pode nos ajudar em alguns problemas que encontramos na construção da ciência da história. Acho que é mais ou menos esse o sentido daquele texto do Althusser sobre a "corrente subterrânea do materialismo do encontro". O que vocês acham?

Cem Flores disse...

"...é interessante pensar as várias dimensões da pesquisa às quais Mao nos atira. Afinal, para conhecer é preciso investigar: tanto realidades empíricas quanto problemas teóricos. Ou seja, para desenvolver o marxismo e análises concretas de situações concretas devemos estar abertos a pesquisa, tanto da nossa formação social, quanto dos problemas referentes à construção de uma ciência, a relação do marxismo com outras ciências, a relação da filosofia com o marxismo."
Poderíamos dizer que esta é a diferença de princípios entre uma prática revolucionária, portanto, científica, das diversas formas de idealismo.
Se situar na luta, que significa, na própria luta, lutando, encontrar de que lado está, supõe, ao mesmo tempo, olhar a realidade como ela é.
Para não cair no empirismo necessitamos construir um outro “ponto de vista” em relação ao “senso comum”, às “verdades estabelecidas”, etc. Esse “outro olhar” significa ver a partir dos interesses do proletariado, única classe, que por ser revolucionária, necessita ver o real pelo que ele é: exploração e dominação de classes; que precisa explicar a sua luta, ou dizendo de outra maneira, sua vida, de forma científica. Ciência da história, portanto da luta de classes, que explica as formas de dominação e exploração de classes, cujos conceitos são descortinados no fogo e no sangue da batalha das classes, pela classe verdadeiramente revolucionária.
Como você nos diz:
Logo, se toda ciência é materialista faz todo sentido rever um "corrente filosófica" que foi, aos poucos e cheio de contradições, achando posições materialistas na filosofia. Essa dimensão de pesquisa na filosofia e o estudo desses outros filosófos pode nos ajudar em alguns problemas que encontramos na construção da ciência da história.
Significa, também, “pesquisar”, na luta, quais os desvios desta ciência que nos levaram a derrota, única condição para construir a possibilidade de novas vitórias.

VMP disse...

"Pesquisar" nos remete 1. à profunda reflexão em torno do materialismo histórico; 2. à análise constante das conjunturas nacional e internacional; 3. à prática militante e revolucionária. Nesse último quesito, tratamos da (re)fundação de um partido revolucionário, horizontalizado em sua relação com as classes trabalhadoras, que sirva de guia à ação. Um partido que jamais queira substituir as massas na histórica tarefa de ultrapassagem dessa ordem nefasta. São muitos os desafios