Em 1869, Friedrich Engels escreveu um curto texto biográfico sobre Karl Marx, que publicamos no post anterior, de 30 de setembro. A essa primeira biografia se seguiriam outra em 1877 e várias notas póstumas (existe tradução em português para o discurso de Engels no funeral de Marx. Disponível em http://www.marxists.org/portugues/marx/1883/03/22.htm). Todos esses textos de Engels visavam divulgar a obra do principal fundador do marxismo, em especial O Capital, bem como seu papel na organização e luta internacional dos trabalhadores pelo socialismo. Através da vida e da obra de Karl Marx, Engels nos mostra a todos a necessidade da união entre teoria e prática, a necessidade de combinar o domínio e desenvolvimento teórico do marxismo, de apresentar respostas concretas a cada situação concreta, com a de organizar os trabalhadores para a ação coletiva reivindicativa e revolucionária. De organizar os trabalhadores e as massas populares para, sob a égide do marxismo, criar seu partido comunista e levar a cabo a revolução.
Achamos relevante publicar essa biografia em nosso blog, que pretende discutir a crise do marxismo e nosso caminho para superá-la, não só porque ela permanece inédita em português (pelo menos não conseguimos identificar sua publicação), mas, principalmente, pelas lições que ela encerra.
Em primeiro lugar, como diz o próprio Engels, porque a “vida passa rapidamente para a geração de hoje e eles esquecem rápido”. Engels se referia à geração posterior a das revoluções dos anos 1840 na Europa. Nós, a todas as gerações que cresceram sob o amplo domínio do revisionismo e do reformismo no movimento comunista mundial e, em especial, à geração posterior à queda do muro de Berlim, em 1989, e à dissolução da URSS, em 1991. No Brasil, às gerações que viram a luta pela derrubada da ditadura militar, pela maior organização e consciência das massas trabalhadoras, pelo avanço da luta de classes, sucumbir à política de acordos entre as classes dominantes, com a importante contribuição de Lula, do PT e dos demais partidos reformistas “de esquerda". Essas gerações, sem poder contar com a teoria marxista iluminando a prática das organizações revolucionárias, ficaram desarmadas frente à ofensiva política e ideológica da burguesia dominante, de sua imprensa, sua escola, suas igrejas e demais aparelhos ideológicos, aos quais os reformistas e revisionistas juntam-se alegremente.
Além disso, mesmo nessa curta biografia de Marx, Engels faz questão de ressaltar várias vezes a necessidade da unidade entre teoria e prática para os comunistas, unidade entre teoria e prática que ele nos apresenta, viva, na trajetória de Marx. A primeira menção a Marx no texto já aponta nessa direção:
“um homem que, além de organizar aquele partido [a Liga dos Comunistas], devotou o trabalho de sua vida ao estudo científico do que era chamado de questão social, isto é, a crítica da economia política”.
Por essa militância, Marx foi seguidamente expulso de diversos países (Alemanha, França, Bélgica). Cada expulsão causada, sempre, por sua atividade revolucionária, seja organizando o partido, seja pelo seu combate na imprensa, seja por suas posições políticas. A cada expulsão correspondia sua mudança, com a família, para outro país e o imediato recomeçar a organizar a luta. Nas palavras de Engels:
“Expulso mais uma vez, agora pelo governo belga sob a influência do pânico causado pela revolução de fevereiro, Marx retornou a Paris por convite do governo provisório francês. O maremoto revolucionário jogou toda a atividade científica para segundo plano; o que importava agora era se envolver no movimento”.
Uma terceira lição do texto de Engels diz respeito ao correto entendimento da teoria que Marx e ele desenvolveram. O marxismo, para os seus fundadores, da mesma forma que para todos nós, seus seguidores e continuadores, deve ser entendido como teoria científica. Ao longo do texto, Engels faz várias referências a isso: refere-se a O Capital como “formulação científica”, que se preocupa, exclusivamente, com “deduções estritamente científicas”, e conclui que “nesse trabalho o socialismo está apresentado pela primeira vez de forma científica”.
Essa unidade entre teoria e prática, entre ciência e movimento político operário, é imprescindível ao movimento revolucionário, construído, aperfeiçoado e depurado nos embates da luta de classes. Essa visão revolucionária de Marx e Engels rapidamente desembocou na necessidade de maior organização da classe, no Partido. Não é por outra razão que Engels faz questão de concluir seu artigo pela seguinte afirmação:
“Como seria de se esperar, além dos seus estudos Marx está ocupado com o movimento dos trabalhadores; ele é um dos fundadores da Associação Internacional dos Trabalhadores”.
Antes de encerrar essa apresentação da biografia de Marx, por Engels, gostaríamos de indicar duas outras biografias de Marx aos camaradas leitores deste blog.
- LÊNIN. Karl Marx: breve esboço biográfico seguido de uma exposição do marxismo. Escrito em 1914. Publicado em português em diferentes edições e disponível em português em http://www.marxists.org/portugues/lenin/1914/marx/index.htm.
- BALIBAR, Étienne. Marx e o Marxismo. In: Cinco Estudos do Materialismo Histórico. Publicado em 1974. Há edição do Editorial Presença (Portugal) e da Martins Fontes (Brasil), já esgotada.
Que todos nós possamos nos imbuir das lições aprendidas e a aprender nos escritos de Marx e Engels e seus continuadores, possamos nos inspirar nas lições da vida desses dirigentes do proletariado mundial, possamos tomar para nós mesmos a responsabilidade de retomar o marxismo, reconstruir o partido da classe operária, partido dos comunistas e colocar na ordem do dia o fazer a revolução em nosso país!
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A tradução foi feita por companheiros colaboradores do Blog. Apesar de todo o esforço para torná-la a melhor possível, não é um trabalho de tradutores profissionais e, assim, existe a possibilidade de inexatidões ou de um texto não tão fluente como o original. Essa foi mais uma razão para publicarmos o link para a versão em inglês. Exceto onde assinalado Nota dos Tradutores (NT), todo o texto e as notas foram traduzidos de:
ENGELS, F. (1869). Karl Marx. In: MARX, Karl e ENGELS, Frederick. Collected Works, volume 21, fevereiro de 1867 a meados de julho de 1870. Moscou: Progress Publishers, 1985, pg. 59-64 e 467-469.
MARX, Karl e ENGELS, Frederick. Letters. Collected Works, volume 43, abril de 1868 a julho de 1870. Moscou/Nova Iorque: Progress Publishers/International Publishers, 1988, pg. 73-77, 144, 351-353, 579-581 e 628.
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